"...VELOCIDADE NOS RALIS..."
Sempre que a jornada do mundial de ralis regressa ao nosso País que me renovo esta questão: “Porque não existe uma ‘Taskforce’ portuguesa nos ralis internacionais com o mesmo nível do da velocidade?”
Desde que a memória me permite, recordo ser esta a grande modalidade nacional do desporto motorizado, muito contribuindo para isso o Rali de Portugal e o Rali da Madeira, verdadeiras referências mundiais da especialidade e que, pela sua enorme projecção nacional e internacional, possibilitaram sempre aos participantes portugueses uma visibilidade impar.
Tais "empurrões", no entanto, nunca pareceram suficientes para termos um nível competitivo que permitisse aos "nossos" pilotos evoluir de uma forma consistente para uma carreira internacional e, com isso, equipararem-se ao que os colegas da "velocidade" nos têm dado.
Uma "Legião Estrangeira" digna de registo.
E foi depois de fazer uma pequena viagem pelos últimos 10/15 anos da modalidade que acabei por cimentar uma opinião que há muito me vinha fazendo pensar.
Em Portugal os pilotos de Ralis estão voltados para "dentro" e raramente têm grandes objectivos de carreira.
OK… ‘objectivos’ poderá não ser bem o caso… pois isso, quero acreditar, todos os terão. Será, porventura, mais uma questão de estruturação e desenvolvimento de objectivos.
Há dois pontos que me saltam, também, à memória: Regulamentos e Comodismo dos Pilotos.
Regulamentos:
Nunca compreendi como num país com tão poucos recursos nos deixámos permitir, durante tantos anos, ter campeonatos nacionais com o que de melhor havia a nível mundial, WRC’s ou classes de valores tão elevados. Acho que se mataram algumas gerações, semelhantes ao que paralelamente a Fórmula Ford nos deu, por simplesmente se quererem colocar ‘Fórmulas 1’ e ‘Fórmulas 3000’ nos troços nacionais. Foi muito bonito termos visto as "bombas" que tivemos durante anos... mas para quê? Para termos 1, 2 ou 3 carros e depois os outros?...
Não acho que se devam transformar os campeonatos nacionais em troféus de carros de baixa cilindrada ou qualquer coisa do tipo, mas criar um maior nivelamento mesmo se com recurso a uma clara redução de classes.
Comodismo dos Pilotos:
Quase não tenho visto em Portugal pilotos que tenham querido subir pelos diversos degraus do automobilismo (Ralis) internacional. Ir para troféus monomarca noutros países e em função dos resultados tentar a sua sorte no Mundial. Todos sabemos que pilotos como "Loeb" não começaram as suas carreiras internacionais ao volante de WRC! O Pedro Lamy, quando foi campeão nacional de Fórmula Ford em 1989 não quis ir directamente para o Mundial de Fórmula 1 ou para o Campeonato Internacional de F3000!
Durante anos tivemos muitos e bons praticantes cujo grande objectivo não pareceu ser o de construir uma carreira sólida e com futuro. Durante anos tivemos, isso sim, muitos pilotos que quiseram passar do ‘3º ano do Liceu’ directamente para o ‘4º da Faculdade’.
Tantos e tantos somente pareceram ter nas suas mentes o ser, ou vir a ser, nacionalmente oficias de uma Renault, de uma Peugeot ou de uma Mitsubishi, sem terem de se preocupar com patrocinadores e assim terem um futuro garantido a curto ou médio prazo, mas... e depois?
Acho que a estruturação de carreiras dos colegas da ‘Velocidade’, nestes últimos 25 anos, deveria ter sido um bom ‘aconselhamento’ para todos, especialmente nos Ralis.
Não quero que fique a ideia, longe disso mesmo, do meu menosprezo pelos praticantes de Ralis, mas sinceramente gostava de num futuro pouco distante não me ficar somente por ver se o melhor Português ficou em 10º ou 20º no Rali de Portugal, mas sim celebrar as vitórias em provas, como o FIA Academy, ou troféus monomarca por esta Europa fora: Citroen, Peugeot, etc…

Um abraço,
Nuno Couceiro
Quarta-Feira, 17 de Abril de 2013