“…PRENDA DE NATAL…”
Há uns dias atrás o Automobilismo conseguiu por algumas horas suplantar o tempo de antena do desporto que constantemente faz parar Portugal: O Futebol.
Mas quando tantos motivos temos tido, com os excelentes resultados alcançados pelos nossos "corredores" alem fronteiras, eis que a razão foi bem diferente e tão pouco abonatória para a promoção da modalidade.
A Capa do jornal Público do passado dia 10 de Dezembro e paralelamente as notícias, análises e "Revistas de Imprensa" que lhe sucederam vieram trazer para a ribalta um tema muito delicado, ao longo dos anos muito falado mas, que no meu entender, nunca foi completamente dissecado e que vem acabando por gerar tantos e tantos comentários, criticas e especialmente... "Tricas".
Não querendo aqui opinar ou posicionar-me pessoalmente sobre o tema focado pela referida publicação, não posso deixar de constatar que mais uma vez temos um caso, aliás um mega-caso, de má aplicação de verbas publicas.
Nunca fui apologista de um estado "Paizinho" dos atletas ou das modalidades.
Sou, sim, defensor de um estado que cria bases sólidas para um desenvolvimento forte e sustentável.
É natural que todos nós queiramos ter Pilotos ou Equipas Portuguesas na F1, na GP2, no Mundial de Resistência, de Rallies ou qualquer outro de topo do automobilismo mundial.
Mas façamo-lo com "Pés e Cabeça"!
No meu entender um desenvolvimento sustentável só se atinge com um plano alicerçado em boas "fundações"... Ou seja... Não começar constantemente a construir a casa pelo telhado.
Quando no final de 1997 decidi criar um Team de Karting, em conjunto com o meu irmão Pedro e com o nosso amigo comum Danilo Rossi, tinha em mente proporcionar as bases para que alguns dos nossos jovens de então pudessem singrar na modalidade.
Fi-lo por paixão, mas também com a convicção de que somente dando a esses mesmos jovens a possibilidade de construírem desde tenra idade uma boa base e estrutura de trabalho conseguiriam alcançar sucesso pessoal, mas também para Portugal.
Hoje, passados mais de 15 anos, tenho a certeza que somente esse é o caminho para, de uma forma constante, termos representantes nacionais ao mais alto nível internacional.
A nossa estrutura, apesar de privada, tinha em mente encontrar forma de os atletas por nós identificados, puderem competir a um nível que pessoalmente não o conseguiriam. Não só pelo nível técnico que lhes proporcionámos, mas essencialmente por conseguirmos que o factor financeiro fosse facilitado, fosse por patrocinadores nossos parceiros, fosse pela ligação directa aos construtores.
Acreditem que me dá um orgulho enorme verificar que fomos cruciais nas carreiras de pilotos como o Álvaro Parente, o Filipe Albuquerque ou o António Félix da Costa. Mas acreditem também que me dá uma enorme mágoa ter tido talentos como o Armando Parente ou o José Cautela que, após a conquista de grandes títulos internacionais, tiveram de abdicar deste desporto onde tinham ainda tanto para dar e... Somente pela tão famosa falta de verbas.
É por isso que quando vejo ou ouço falar dos milhões que se despendem, e quase nada vejo aplicado á formação, fico a pensar se teremos grande futuro no que toca a quantidade de pilotos ao mais alto nível.
Como sou um optimista, acredito que sim....
Quando algumas atitudes mudarem!
Venha daí essa "Prenda de Natal"!

Nuno Couceiro - Crónica Autosport 19 Dezembro 2012
Quarta-Feira, 19 de Dezembro de 2012