"...PELOUROS..."
A ideia para o texto que hoje aqui vos deixo surgiu-me há poucos dias quando vi na televisão a entrevista/comentário de mais um “opinador” público português.
De facto, nos últimos anos, criou-se a moda de, por alguém ter notoriedade e se ter salientado numa área específica, passar a ser um “opinion leader” e… posteriormente falar sobre tudo e mais alguma coisa como se de um “expert” se tratasse.
Chegámos ao ridículo de ter cineastas, médicos, advogados ou políticos a falar sobre futebol, como se durante toda a sua vida tivessem estado dentro das “quatro linhas”.
Caímos no absurdo de ver alguns desses “opinadores” falar sobre áreas que até há poucos meses desconheciam a sua existência.
Não é de admirar, pois, que este mal se tenha generalizado pelo povo em geral e hoje tenhamos uma grande e importante parte da população a falar sobre o PIB, inflação ou taxas de juro com um aparente conhecimento económico ao nível dos mais conceituados professores de Harvard.
Pois bem… infelizmente este mal enraizou-se também na nossa forma de actuar e ver o desporto automóvel em Portugal.
De facto, a miscelânea de competências que paira sobre o nosso automobilismo poderá não estar a “matá-lo”, mas está garantidamente a “estrangulá-lo” a um nível que o deixa, muitas vezes, moribundo.
Quanto a mim, os quatro intervenientes chave em todo este processo (federação, clubes organizadores, promotores e praticantes) deverão trabalhar em conjunto e num só sentido, mas sempre com a ideia chave em mente de que:

Federação – Legisla e Supervisiona
Clubes – Organizam
Promotores – Promovem
Praticantes – Guiam!

Temos, então, o começo do grande problema, pois vamos vendo que até aqui são variadíssimos os conflitos de interesse e autoridade que fazem com que os principais prejudicados sejam os que mais deviam ser ajudados em todo este processo: os praticantes.
Bem sei que estes últimos também deverão ser mais participativos em algumas áreas e principalmente em algumas fases decisórias, mas… que culpa têm os pilotos em ver os clubes, os promotores e a federação em constantes guerras e confusões?
Quando no ano 2000 promovi e pertenci à união dos vários promotores das provas de velocidade em Portugal, a BOOST, percebi que não iríamos ter uma tarefa fácil.
Apesar dos bons momentos que os nossos eventos conseguiram, sei também que muito mais poderia ter sido feito… E porque é que não foi feito?...
Sou, por norma, bastante auto-critico e por conseguinte sei que existiriam pontos a melhorar na promoção, leia-se estruturação, dos nossos eventos, mas não serei desonesto ao achar que tivemos, por variadíssimas vezes, problemas de constante intromissão na nossa área… seja na orgânica ou regulamentar dos campeonatos, seja no procedimento organizativo e promocional das provas.
Agora que a nossa Federação irá ter uma nova direcção é tempo de mudar este tipo de política e, de uma vez por todas, deixar cada um trabalhar nos pelouros que realmente percebe.
Tenho a certeza que qualquer um dos intervenientes “a jogo” tem esta visão dos acontecimentos e por isso estou ansioso por ver acontecer um “reset” à "máquina" e tudo a funcionar novamente no bom caminho.

Um abraço,
Nuno Couceiro


Crónica Autosport 22 Maio 2013

Quarta-Feira, 22 de Maio de 2013