RETORNO MEDIATICO - SPORTMOTORES.COM
Na sequência de todos os textos que aqui tenho apresentado, julguei ser altura de vos falar um pouco sobre um tema que hoje anda nas bocas do mundo - O RETORNO.

Como disse ao terminar o meu último texto, julgo ser um tema "Muito interessante para todos, sobre o qual muito se fala nos últimos anos, mas que poucos têm uma noção real do assunto."

Poderá parecer um pouco presunçoso da minha parte expressar-me desta forma mas, como verão se tiverem disposição para ler estas linhas até ao final, a minha postura é linearmente oposta!

A primeira vez que fui confrontado com a palavra Retorno foi em 1990, no final da temporada em que fui campeão de Fórmula Ford aqui em Portugal.

Chegou-me às mãos, então, um dossier com uma série de recortes sobre todas as notícias que a meu respeito tinham saído na imprensa nacional, bem como a valorização que essas mesmas notícias teriam tido.

Para mim foi algo fantástico, poder contabilizar e mostrar a quem em mim investia, que o Sponsor X tinha aparecido n vezes ou que o espaço ocupado pelo Sponsor Y teria tido uma valorização de tantos milhares de escudos! Começava ali uma verdadeira odisseia para todos quantos estavam neste meu projecto!

Nestes anos que passaram muito fui aprendendo em relação ao retorno/investimento, à forma como se pode melhorar a imagem, ou como cativar novos investidores. Muito fui também compreendendo como o mediatismo está directamente ligado ao retorno e como a componente relações públicas de um determinado projecto nem sempre é imediata nos retornos que muitos esperam.

Ao longo dos 15 anos em que tenho vindo a trabalhar com a Memorandum, que é a verdadeira catedral nacional das empresas que realizam análise dos meios de comunicação social, fui apurando os meus conhecimentos no entanto, ainda hoje tenho plena consciência que de retornos pouco ou nada sei. Pelo contrário, vejo muito boa gente que não sabe sequer como é contabilizada uma notícia, ou se se trata de um retorno noticioso (News) ou retorno patrocinador (Sponsor), tecer os mais sábios comentários sobre eventos, pilotos ou investimentos.

Trabalho diariamente, como vos disse, com estes dados sobre a minha mesa. Tenho todas as manhãs, detalhes minuciosos sobre as notícias de grande parte dos nossos melhores representantes (Velocidade, Ralis, TT ou Karting) a correr em Portugal e no Estrangeiro. Sei mensalmente onde estiveram, que meios melhor os divulgaram e em quanto foi avaliada a sua presença nesses referidos órgãos de informação.

Contudo, mesmo tendo acesso a tudo isto e trabalhando desta forma, que acredito poucos farão, posso dizer-vos que falar de Retornos é algo muito complexo e sobre o qual dificilmente podemos sobre ele afirmar ter um conhecimento absoluto.

Para os mais interessados nesta área gostava de vos deixar um pequeno exercício! O que acham ser melhor e ter mais valia em termos de investimento?

1 - Uma pequena foto de 5x5cm no jornal Record ou uma foto de capa no nosso Autosport?
2 - Uma reportagem de cinco páginas numa qualquer revista cor-de-rosa ou uma pequena notícia no Expresso?
3 - Um apontamento no Telejonal das 20 horas ou uma longa entrevista num qualquer programa da manhã?

Tenho a certeza que quase todos tiveram uma resposta imediata. Sabem a minha opinião? Se acham ter resposta pronta estão muito enganados.... É que o melhor retorno ou mais válido investimento depende de uma série de factores e não só saber quanto vale o espaço x ou se gostamos mais de ver o canal y ou jornal z... Os objectivos de um Sponsor passam não somente por avaliar a quantificação do espaço ocupado na comunicação social (valores que servem somente de referência), mas também pelo seu público alvo ou potenciais consumidores.

Ou seja, existe um sem número de variáveis que condiciona o Investimento/Retorno e não somente o acharmos que apareceu muito ou foi muito visto. É um tema muito delicado e com discussão para umas boas horas...

Para finalizar gostaria de vos transmitir a minha experiência pessoal ao longo dos últimos anos, como lidei com o desconhecido e como encarei novos desafios nesta área da comunicação.

Sempre tive a plena noção que, para projectar a minha carreira, teria de trabalhar a minha imagem e promover os meus projectos nos mais diversos órgãos de comunicação. Fui um dos pioneiros a trabalhar desta forma, em conjunto com os press-officer, com quem estive e tenho a certeza que ainda hoje tiro dividendos do investimento que nessa altura fiz.

Ainda me lembro da altura em que comecei a sair dos AutoSport ou Motor, ou Record e A Bola, para começar a entrar também pelos Público, Semanário ou Expresso. E da tão crítica fase em que comecei a aparecer nas chamadas revistas do social ou revistas cor-de-rosa. Hoje, alguns dos que mais me criticavam por aparecer, também, nesse tipo de órgãos de comunicação, são os que mais se desdobram para conseguir uma noticiazinha rosa!!!

O Retorno é algo muito mais complexo do que muitas vezes se comenta e não se consegue obter sem um trabalho árduo e planeado. Muito haveria a falar sobre este tema e, para quem tiver interesse, convido-vos um dia a visitar uma Memorandum. Certamente ficarão com a plena certeza que não é um assunto que se trate com ambiguidades.

Notal Final (um pouco alargada!!!!)

Dois pontos que gostaria de abordar e que têm directa ou indirectamente a haver com este tema, mas acima de tudo com a nossa postura tão portuguesa do bota abaixo!

1
Durante muitos anos existiu um programa chamado Rotações que muito projectou e divulgou o desporto motorizado. No que me diz respeito, largas foram as horas que tive de apoio na fase mais importante da minha carreira - o início da minha internacionalização.

José Pinto, verdadeiro remador contra uma maré televisiva já na altura pouco dada ao nosso desporto, fazia das tripas coração e conseguiu ter no ar um programa que, julgo, todos hoje têm saudade e gostariam de ver reeditado.

Um destes dias, ao ver a RTP-Memória, fiquei maravilhado com a abrangência dada a todas as modalidades e à forma como eram impulsionados os projectos nacionais e internacionais dos diversos pilotos portugueses.

Mas.... o que ouvíamos nós então?
Somente me recordo das inúmeras críticas que muitos faziam. Ou porque o Zé Pinto não sabia nada de carros, ou porque isto ou porque aquilo....

Sabem quem, mais do que ninguém, matou o Rotações?
Aqueles Opinadores de que vos falei no primeiro texto que aqui apresentei este ano. E por falar em Opinadores e sentir que é com o tempo que estes são desmascarados apresento-vos mais um outro ponto engraçado!

2
No final da temporada passada, e naturalmente mais atento ao que se comentava sobre o meu piloto Filipe Albuquerque, fui confrontado com algumas afirmações curiosas. Como sempre, e em apreciações tipo conversa de café que os Opinadores tanto gostam, comecei a presenciar comparações do campeonato A versus campeonato B ou do piloto 1 com o piloto 2.

Uma das mais caricatas comparações que vi na altura foi a do campeonato espanhol de Fórmula 3 com o seu homólogo inglês, que como é natural criou alguns pontos de clivagem extra uma vez terem estados presentes dois portugueses nestas competições. Neste caso, o Filipe (Albuquerque) no Espanhol e o Álvaro (Parente) no Inglês.

Acontece que os comentários menos favoráveis ao campeonato Espanhol em favor do Inglês, somente vieram e vêm denegrir a imagem do Álvaro (Parente), mesmo que momentaneamente possam tocar o piloto Filipe Albuquerque que corria no Espanhol...

Vejamos, todos sabem que o Campeonato Inglês de Fórmula 3 já não vive os anos dourados dos anos 80 ou 90. Também todos sabem que o Campeonato Espanhol é monomarca em termos de motor o que equilibra e muito as performances.

Mas, finalmente, todos podem constatar que os pilotos saídos deste campeonato são tão ou mais competitivos que os adversários saídos de campeonatos idênticos por esta Europa fora. Quem sai lesado de tudo isto.... o Álvarinho, que num ano de estreia é batido por dois ex-campeões da Fórmula 3 espanhola (Borja Garcia - 2004 e Andy Soucek - 2005) na World Series by Renault e que somente vê todos os comentários daqueles Opinadores de então servirem como um bota-abaixo das suas excelentes performances de 2005.

É tudo por hoje. Como sempre, deixo-vos o mote para o meu próximo texto. Irei abordar o tema Karting e as Corridas de Lazer para muitos o primeiro contacto com o desporto motorizado.

Abraço e até breve,
Pedro Couceiro
Terça-Feira, 17 de Outubro de 2006